O manequim da Livraria do Globo

segunda-feira, 5 de maio de 2008


Aí mandaram meu namorado pro psicológo. E eu achando que a louca era eu. Mas não. A mãe dele o pegou batendo uma punheta para uma revista cruzeiro de 1965! Como assim, meu filhinho manchando as revistas que papai deixou-me de herança? Ah Velma, deixa o guri ter um pouco de diversão, na minha idade... É, foi a empregada deles que contou-me tudo com detalhes. Ela presenciou tudo, desde quando a Dona Cristina (minha sogra) abriu a porta do banheiro e pegou seu filho fazendo aquela "falta de respeito a moral e bons costumes" até quando a mesma o pegou pelos cabelos e lhe deu uns pentelecos como se fosse uma criança de cinco anos.

O pior era que a Laís, a empregada não calava a boca. A gente dá uma abertura e elas não param de me falar.

- Você sabe a foto de quem, ele estava olhando? - ela me perguntou

- Não, não sei Laís.

- Então... era da YEDA MARIA VAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAARGAS!

Ressalto este "a" estendido, porque foi bem assim que ela falou, bem molenga. Yeda Maria Vargas era uma morena muito bonita que havia sido Miss Brasil e depois Miss Universo. Quase todos os dias em que passava pela galeria da Livraria Do Globo e comprimentava seu quadro gigante, a capa da revista "O Globo". E agora, era traída assim. Com aquele sorrisinho sarcástico, sabendo o que meu namorado fazia com as suas fotos no banheiro, safada! Yeda, sua herege! O ódio subiu pelas minhas veias, um ódio talvez maior do que quando ele disse que a Sophia Loren tinha os seios maiores que havia visto na vida. Com a Sophia eu não estabeleci um vínculo, uma troca de olhares cotidiana como a Yeda. Portanto, me fiz de surda, como em tantas outras vezes. Mas agora, a miss havia compartilhado a minha gentileza, educação e eu senti uma vontade imensa de destruir aquela imagem enorme na livraria.

Para piorar a situação, foi obrigada a dar condolências para aquele trouxa.Porque ainda não me convenci de que o arroz com feijão nunca satisfaz? Que falta de educação vir chorar em meus ombros, a Yeda devia ter um ombro mais apetitoso que o meu.

No final das contas, tudo resolveu-se. A Cristina sossegou o facho e agora era permitido distrações apenas com revistas Veja.

E eu procurando desesperadamente o número da Dona Yeda na lista telefônica.

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