segunda-feira, 19 de maio de 2008
- Ei amor, sendo você um recessivo e eu dominante, nossos filhos podem nascer híbridos de cabelo preto, certo?
- Que?
- A revista aqui. Tô lendo um artigo de genética mendeliana.
- Mendeliana? Deve ser um cara que não tinha mulher, como todos estes cientistas malucos.
- As vezes você me enerva. Eu falando de uma coisa séria e tu com essas piadinhas idiotas!
- Tá. - e virou-se para o outro lado do sofá.
- Tá o que? Odeio esses monossílabos tônicos.
- O melhor é perguntar o que você não odeia né?!
- Na verdade, nem sei mais. Você é uma coisa que pouco a pouco com os passar dos anos, eu pressinto que odiarei com todas minhas forças.
- Que maravilha. Guardemos tudo que possa ser usado como arma.
- Claro, sou a Odete Roitman dos pobres.
- Claro, sou a Odete Roitman dos pobres.
- Isso foi uma ironia?
- Maybe.
- (...)
- Não é bem assim. Gosto de algumas coisas. Por exemplo: teu jeito de folhear as revistas.
- O que?
Alcançou uma revista e ordenou que folhasse. Quebrou o silêncio dizendo:
- Tá e daí?
- É lindo, lindo. Você molha as pontas dos dedos antes de mudar de página...
- Não entendi.
- Não é para entender. Apaixono-me por coisas dispersas e a forma como você muda de página é uma delas.
- Então tá.
- Por quê essa resposta insolente? Qual é a graça? Você costumava importar-se mais com o que eu dizia.
- Não é insolente, é uma paranóia sua, para variar. Não sei como não me cansei ainda, mas você é o perímetro do meu quadrado, a geometria do meu espaço...
- Que coisa mais ridícula!
- Não posso te amar com proporções matemáticas?
- Meu amor não é proporcional ao teu. Vamos rever conceitos matemáticos, chérri.
Beijam-se e mergulham na escuridão da noite.
2 comentários:
Muito bom o texto, Jessica, lembra eu e minha namorada em alguns aspectos.
Me passa o livro de biologia?
Se bem que também ando mal das pernas em geometria espacial... pode ser o de matemática também.
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