A velha, a ala-minuta e eu

terça-feira, 8 de abril de 2008


Numa tarde ensolarada de abril, o céu sem nuvens, faltando apenas 21 dias para o show do Aznavour, decidi realizar o único capricho que de fato eu poderia pagar: almoçar uma ala-minuta. Todo mundo tem um desejo, um capricho burguês, a Piaf tricotavca e ligava o ar condicionado, a M.M faz o sinal da cruz três vezes seguidas antes de entrar no palco, enfim, incluam muitos "etc'' aqui. A minha extravagância resumia-se numa ala-minuta. Com o bife tinindo de tão bem passado, arroz branco para misturar com o ovo (quer coisa mais brasileira que isso?) , batatas fritas cheias de óleo. Só faltava uma coca-cola gelada para complementar o lado capitalista.

Escolhi um restaurante que costumava frequentar com minha mãe: o Troppo Bene. Nós comiámos batatinhas fritas molhadas ao molho rosê, tenho boas lembranças de lá. E não era como comer na praça de alimentação, pois ali damos um passo e já nos enfiam os pratos de comida na cara. Cheguei, sentei, cheia de livros, um calor de meio dia. Coloquei os óculos para enxergar a garçonete, que olhou-me com um olhar de quem diz: "você não tem dinheiro para pagar". Como a vontade de almoçar era maior que minha irritação, decidi ignorá-la. O problema é que o Troppo Bene é um lugar aonde não se consegue ser ignorado, a cada m² existe um executivo com os olhos postos em você.

Finalmente meu prato chegou. Entrei em êxtase. Com avidez digna de alguém que não come desde a semana passada, cortei o bife e o ovo, coloquei as batatas na boca e deixei-as boiando , para sentir melhor seu gosto. Nem percebi que ao meu lado, uma senhora muito da elegante almoçava calmamente. Lançei um rápido olhar a ela e não foi preciso muito para constatar a falta de proporção entre nossos pratos. Ela comendo algo extremamente saudável enquanto eu estava entupindo minhas veias de gordura trans. Por dois segundos arrependi-me de ter pago R$ 7,90 para acabar mais com minha saúde.

E assim, a velha foi embora, eu terminei o resto da ala-minuta, lambendo, de fato, os beiços. Depois novamente a vi examinando roupas na loja mais bonita do shopping. Quase vomitei o almoço pensando que daqui a 20 ou 30 anos, serei uma bolinha rolante e não uma senhora enxuta que fica olhando as vitrines careiras das lojas.

0 comentários:

 
A excêntrica vida de Dona Cuca - Templates para novo blogger