In meinem Herzen, para os íntimos

segunda-feira, 14 de abril de 2008


Anoiteceu e faz frio. As mãos estão congeladas, as articulações parecem levar sangue gelado nas veias. E eu estou aqui no meu ar condionado ligado assim que o dia tornou-se noite, pernas para o ar, envolta no meu casaco de plumas negras. Se tudo parece propício a uma noite regada de fondue e vinho Bordeux, porque pedi para ficar trancada aqui dentro, sem minha irmã para me servir um chá? Prefiro ficar com sede do que olhar para a cara dela. Enojei. Enojei desse maldito círculo vicioso, que levou a Monique junto comigo para o fundo do poço. É, ela estava presente enxugando o sangue dos meus pulsos e em muitas outras ocasiões, seja dispensando pessoas, espalhando as flores ( eles ainda me matam de rinite, com essas porcarias de buquês) pela casa para ver se alguma demonstração de bom humor se fazia acontecer em meu rosto. Como todas as irmãs que se conhecem bem, Monique não exigia sorrisos e atitudes jocosas de minha parte, pois sabia que depois de mais de 40 anos de convivência, não seria agora que transformaria-me no palhaço Bozo.

O que posso fazer, se a única pessoa com quem ainda posso contar, é ela? Nem mamãe conseguia surprir a falta de uma pessoa confiável ao meu lado. No dia em que perdi a virgindade, mamãe foi a primeira a espalhar para o resto da família. Em questão de segundos, meus 11 irmãos e o resto da parentada, ficaram sabendo de tudo. Ela não podia condenar-me. Não mais. Não agora em que estávamos gozando de conforto, tudo pago por mim. E mamãe era uma coelha também, era só ela escovar os dentes com a escova de papai, que ficava grávida! Assim perdi a confiança nela para sempre. Aprendi que mães não precisam compartilhar nossas inclinações, porque sempre acharão que a culpa é delas, algum erro na criação. Monique era e é única, temos alguns anos de diferença de idade, algo muito peculiar, porque mesmo eu sendo mais velha, ela sempre parecia ter um controle maior da situação. Sempre olhava para frente, incrível como podia prever cada passo que eu ia dar. E principalmente: sabia conduzir a vida. A minha vida. Monique parou sua vida, não queria casar, deixar a irmã insegurazinha, disléxicazinha? Nunca! Ela apenas largou o barco, quando viu que alguém poderia fazer melhor o trabalho de cuidar de uma louca travestida de moça-exemplo. Eram cinco consoantes e uma vogal. E seu nome era Johnny.

Preciso dedicar um parágrafo inteiro só para ele. Os outros poderiam saber das coisas, mas esse sabia muito. Muito no que se dizia respeito a minha pessoa. Pro resto, era dinheiro. O mundo girava pelo capital. Ele apenas rendia-se , quando olhava nos meus olhos e eu lhe implorava que pelo amor de Deus, que não fosse embora. No começo, muitas vezes o vi indo sem um pingo de compaixão. Depois, ficava cada vez mais. O fato de Johnny ser homem, nunca foi um fator importante, pois sempre o olhei como uma criatura sem sexo. E para variar não era o que Papai achava. Porque Mamãe fez sua cabeça, apenas para estragar minha felicidade. O fato de eu ser a mais alta da família, não em altura, mas em posição social a irritou de tal maneira, que tudo para ela tornou-se uma ameaça. Com Johnny não era diferente. Mamãe começou a achar que ele faria minha cabeça e eu idiota (porque sabe como é, as mães acham os filhos idiotas até eles completarem 40 anos) iria rebelar-me contra aquela família, que podia não ser a melhor, contudo tinha muitas qualidades. Para sua felicidade, nem precisou de tramoías. O final com Johnny estava com os dias contados mesmo.

Um dia, nós brigamos. Não eram aquelas brigas ridículas, sobre roupas, dinheiro, chegar podre de bêbada em casa e ele tomar no cú porque não sabia cuidar de uma pirralha. Naquele dia, discutimos de igual para igual, mão importando o meus 1.53 e o quase 1.90 dele. Mandei- o tomar banho, tomar no cú, tomar todas as dores possíveis e impossíveis. Johnny retribuiu os xingamentos e acho que sua alma tornou-se negra depois deste dia. Bati a porta e fui viver os outros "eu te amos" e "para sempres" que a vida havia reservado-me. Monique largou tudo para cuidar e veio fazer a minha retaguarda emocional.

Agora, meu coração parece mais gelado que o frio lá fora. A solidão deve ser aprendida não é? Não. Se fosse assim, meus pulsos ainda sangrariam. Abrirei a porta com meu sorriso arrogante, luvas coloridas para esquecer que o sangue não circula mais. Monique, meu chá CARAMBA! Será que vou ter que perder a voz pra você me ouvir?

1 comentários:

Braga disse...

Todos temos aquela Monique, não e´mesmo? Aquela pessoa que não importa o que aconteça, vai sempre cuidar de ti e tu diz: PORRA, MEU, FAZ DIREITO. e ela vai fazer direito. Quem não tem uma, tem uma dentro de si, enrustida.

As mães acham não acham os filhos idiotas até os 40, acham por toda a vida, por terem feito provavelmente a mesma merda que eles fizeram quando tinham nossas idades. Em outras palavras, nossos pais são o lado cruel e diabólico da Monique, porque essa Monique tem vida própria.

Johnny não valia muita coisa, provavelmente, se a via como uma criatura sem sexo ele não era viril e deixou-se persuadir por suplicos. Tu dominou ele e sabia disso, moça, aproveitou-se. Quando enjôou, deu um jeito de se livrar.

Mas tudo bem, a Monique sempre diz que tu está correta.

 
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