Eu vou ao encontro de compreender e saber, ver a vida pelo verso do espelho

quarta-feira, 30 de abril de 2008


Este texto por ser o mais pessoal, talvez fique tão ruim quanto o pastel que acabei de comer ou fique até suportável de ler. Eu viajei, literalmente. Assim que coloquei meus pés no Teatro do Sesi, podia ver aquela atmosfera parisieense no ar. Passei o mês inteiro, implorando para que do céu descesse a chuva e o frio, apenas o segundo pedido foi atendido. Tudo estava no seu lugar, eu podia sentir isso arrumando-me para finalmente sair pela rua com o ingresso que estava pendurado no mural desde março.

O Teatro do Sesi não tem graça nenhuma, mas nesta noite parecia que estava iluminado de uma forma diferente, um colorido que remetia aquela música "colore ma vie". Minha vida estava ficando colorida, os lápis rabiscavam algum desenho muito bonito, eu os sentia deslizar por minha pele quando me arrepiava. Não era frio. Eu me sentia burra, porque meu coração não disparou nos dias que antecediam o show? Agora, parecia que era ele bater mais um pouco, para um enfarto acontecer e quem sabe, cair no assoalho gelado do teatro. E não havia ninguém para oferecer-me uma água (depois do show, eu fui tentar beber água, quem disse que consegui? DERRAMEI TUDO NO CHÃO! ESTAVA COM PARKISOOOOON!), segurar minha mão que estava fria feito pedra de gelo e fazer-me manter a compostura. Logo o que eu ficaria fazendo vendo aqueles senhores (as) conversando e analisando quem comprou primeiro o ingresso? Tive que subir o elevador. Os olhares destes mesmos senhores fuzilavam-me, eu olhava para cima pedindo ajuda divina, sem sucesso. O calvário valeu a pena. pois ao ver meu lugar bonitinho e cheirosinho esperando-me, abri um sorriso de ponta a ponta. As senhoras chegavam cada vez mais, com casacos de pele (estamos na Paris Porto Alegrense, não se esqueçam), cabelos duros de laquê. Os senhores de terno, de braço com suas "ladies". E eu lá no canto excluída, pagando de pseudo-francesa, com direito a boina e livro da Edith Piaf a tiracolo. Estava achando que um (a) infeliz não iria vir e quase comemorando que teria um lugar a mais para sentar-me, até que chegou uma dona e roubou a minha felicidade momentânea.

As luzes apagaram-se. Hora de pegar o avião rumo a Armênia. Os passageiros em completo silêncio. Até que o piloto, o Sir Charles Aznavour entrou na aeronave e as palmas vieram como turbulências em dia de chuva. O vôo que começou aos sacolejos, agora tornava-se cada vez mais sereno, apenas a voz de Aznavour ecoava no recinto. Podia sentir o cheiro de lataria velha da Torre Eiffel. Paris cada vez mais perto dos passageiros. Enquanto para muitos, a cidade da luz estava bem ao seus olhos, a mim ela apenas foi avistada quando a aeromoça entrou na viagem. O nome dela era Katia Aznavour. Já a tinha visto requebrando as cadeiras de uma forma, que duvidei de sua nacionalidade. Ela nos ofereceu um lanche completo: sua voz, que parecia a de uma mocinha. Perguntei-me quantos anos devia ter. Foi o momento mais lindo de toda minha passagem por Paris. Seguindo a rota, saltamos para Cuba, aonde dançamos e batemos palmas, nos deleitando com nosso comandante, lindo e autista, dançando pelo avião. Charles até mandou descer um globo giratório! Assim, num estalar de dedos. E o avião mudava de cor, ora verde, ora azul, cores de Frida Kaklo e Almodóvar. Um giro completo pelo mundo. Voltei a Porto Alegre, desolada, sem poder comprimentar o meu herói, de todas minhas brincadeiras imaginárias e fez-me viajar pelo mundo sem sair de casa: Monsieur Charles Aznavour.

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